quarta-feira, 30 de setembro de 2015

DECLARAÇÃO DE VOTO

Dei-vos o meu voto muitas vezes, julgando que, de uma maneira ou de outra, queriam o bem do meu povo. Vejo agora claramente que os partidos que nos têm governado, muito longe da pureza inicial dos militantes por convicção, foram tomados por bandos de oportunistas que vivem numa teia de interesses obscuros de favorecimento de grupos privados e amigos, onde o interesse geral do meu povo já nada conta. Cansei-me das mentiras, dos deputados que eu elejo com o meu voto, mas que obedecem às cúpulas dos partidos, da corrupção impune…

Não votarei mais nestes partidos tradicionais que nos têm governado. Tiveram 40 anos para mostrar o seu valor, e foram uma decepção completa. Não sei ainda onde votar, mas neles já só os muito parvos é que podem votar. Votarei talvez num pequeno partido qualquer. Pode ser que tenha gente séria. De resto só são pequenos se eu e os outros como eu (que julgo serem muitos), continuarmos a ser tolos e a votar nos que nos têm enganado.

Um dia, se os homens e mulheres sérios voltarem a dominar estes partidos tradicionais, poderei voltar a votar neles. Mas primeiro terão que correr com tudo o que é aldrabão e oportunista das suas fileiras…

Chega de fazerem de mim parvo! 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O PARADOXO DO DIREITO NATURAL À FELICIDADE

Tem-se vindo a consolidar na Europa a convicção de que todo o cidadão ao nascer deve ter a felicidade como direito garantido. O assunto combina bem com uma certa ideologia que desresponsabiliza os jovens a partir da mais tenra idade, dando-lhe desmedidamente mais direitos que deveres. Podendo parecer uma questão meramente teórica e com pouco interesse para a vida quotidiana de cada um de nós, ela é, bem pelo contrário, de grande interesse prático e atualidade, dado que é nessa forma de pensar que são ancorados inúmeros comportamentos e normas sociais e legais. Vou apenas centrar a questão no conceito de “direito natural à felicidade” como consequência das condições de vida, já que penso que é pela sua própria natureza inatingível.
1 - As condições que proporcionam a felicidade, e que podem ser objeto de intervenção ou regulamentação, são essencialmente materiais e sociais (donde se excluem as de carácter afetivo, religioso e outras), e que podem ser asseguradas ao indivíduo através das ações da sociedade e de suas organizações (assumindo aqui o Estado um papel preponderante).
2 – A felicidade é evidentemente um conceito difuso e algo subjetivo, mas no caso que aqui trato resulta sobretudo das situações em que o indivíduo consegue obter algo que desejou, e que tomou como sendo de obtenção não garantida.
3 – Quando, como consequência lógica do “direito natural à felicidade”, se oferecem indiscriminadamente a todos os cidadãos as condições materiais e sociais necessárias e suficientes para a sua obtenção, essas condições perdem a natureza de “desejo satisfeito”, e logo perdem a capacidade de gerar felicidade.
Portanto podemos perceber que existe um paradoxo neste assegurar do “direito à felicidade”, e que resulta precisamente da sua natureza: a “felicidade” só existe de forma mais ou menos efémera como consequência da obtenção de algo difícil de obter. Portanto tudo o que é oferecido sistemática e universalmente perde a capacidade de gerar felicidade.
É evidente que esta ideia geral tem inúmeras consequências práticas ao mesmo tempo que permite compreender fenómenos aparentemente estranhos. Por exemplo, existem sérios problemas de depressão e situações de suicídio em países que garantem aos seus cidadãos boas condições de vida, e logo onde se esperaria encontrar povos com elevados níveis de felicidade. Parece que, tal como o nosso sistema imunitário “enlouquece” quando vivemos em ambientes estéreis e o nosso corpo não recebe qualquer tipo de agressão do exterior, também o nosso espírito perde a energia e o estímulo para a vida quando tudo corre “demasiado bem durante demasiado tempo”. 
Repensemos por isto a forma como temos vindo a educar os nossos filhos. Criamos para eles um mundo de direitos sem deveres, onde tudo lhes é oferecido sem que para isso tenham que despender o mínimo esforço. E, surpresa ou talvez não, não são mais felizes por isso. Tudo o que a vida lhes trás de bom (e é geralmente muito) é por eles desvalorizado e indiferente; as pequenas contrariedades com que têm que se confrontar são vistas como dramas geradores de profunda infelicidade, e quantas vezes de séria depressão.
 A felicidade é afinal um bem pelo qual tem que necessariamente se lutar, mas que não pode ser nem inatingível nem oferecida graciosamente.

Pensem nisto.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PENSAMENTO DO DIA DE HOJE

Somos feitos daquilo que comemos.

Sim, literalmente, todo o nosso corpo é constituído pela matéria que fomos comendo ao longo da vida. Assim, depois de devidamente processado, somos o pedaço de maçã, mais a côdea de pão e o naco de carne… tudo amalgamado em novas formas e funções, mas ainda assim somos feitos daquilo que comemos.

Também aquilo que sabemos, a forma como pensamos, e as coisas que sentimos, são pedaços de saber que de uma maneira ou de outra fomos adquirindo ao longo a vida. Tal como acontece com a matéria, também nas coisas do espírito somos feitos daquilo que os sentidos nos revelaram, mas fundamentalmente daquilo que os outros partilharam connosco.


Por isso, ser professor é de algum modo semear nos outros partes de nós mesmos, replicando assim o que já outros depositaram em nós, no ciclo interminável que é a cultura. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

sábado, 17 de janeiro de 2015

OS BAIXOS SALÁRIOS E A BAIXA PRODUTIVIDADE

Uma mentira, se repetida mil vezes, mesmo continuando a ser mentira, passa a ser tomada por todos como verdade. É este o caso da relação entre os baixos salários dos portugueses e a sua baixa produtividade. Tantas vezes se disse que os baixos salários são consequência da baixa produtividade, que deixamos de ver que no essencial essa não é a verdade, mas antes o seu oposto:

A verdade é que os baixos salários promovem a manutenção da baixa produtividade.

Historicamente isso pode ser verificado e demonstrado por muitas situações, mas dou-vos como exemplo o que se passou nos campos agrícolas alentejanos (e não só) ao longo do século XX. Enquanto a mão-de-obra foi muito barata, o baixo custo dos salários não justificava o investimento em máquinas. Dito de outro modo, era economicamente mais interessante pagar o salário a um grupo de ceifeiros, que comprar uma ceifeira. No entanto, assim que, devido ao êxodo rural o preço do trabalho subiu, a mecanização arrancou. Acabaram os bandos de ceifeiros e começaram a ver-se as máquinas a andar pelos campos.
O que se passou no setor do calçado em Portugal nos últimos 30 anos demonstra igualmente o que afirmo. O trabalho infantil, feito em casa, com mão-de-obra paga miseravelmente, era justificado para assegurar a “sobrevivência” do setor. Dizia-se que a atividade não suportava pagar sequer o salário mínimo, e por isso o trabalho infantil era um “mal necessário”.  Acabado o trabalho infantil (em boa medida por pressão da U. E.) o setor não só sobreviveu como prosperou. Os salários mais altos obrigam a inovar, a mecanizar, a procurar produtos e mercados compatíveis com as novas condições de produção. Afinal era possível produzir mais que as botas com sola de pneu de automóvel!
Compreenda-se que se um empresário tiver quem trabalhe para si a 10 euros por mês, até pode mandar cortar um relvado com um corta unhas. A produtividade será muito baixa, mas a 10 euros por mês… Se tiver que pagar um salário elevado a quem corte a relva, por certo comprará uma máquina para que se gaste pouco tempo a cortá-la. É assim a vida, é assim que efetivamente funciona o ser humano, é também assim que funciona a economia.
Os empresários, como qualquer outra pessoa ou qualquer outro organismo vivo, obedecem à “lei do menor esforço”: se conseguirem um rendimento satisfatório sem ter que inovar e evoluir, manter-se-ão no conforto imobilista da situação pré-existente; só farão o esforço de mudar, se as condições a isso obrigarem. Mas esse esforço é afinal o combustível da competitividade e do progresso económico, causa, mas também consequência do desenvolvimento de um país.
Quem pensa que o desenvolvimento decorre exclusivamente do crescimento económico numa relação de sentido único, está redondamente enganado: o crescimento económico também pode ser impulsionado pelo desenvolvimento.

Além de tudo isto, salários mais altos estimulam o consumo, e este é o fertilizante fundamental das empresas e da economia. Toda a gente sabe disto!
Também toda a gente sabe que trabalhadores (ou, como gostam de chamar agora, "colaboradores") bem pagos, respeitados e estimulados, são mais criativos empenhados e produtivos...
Pergunta-se então por que motivo nos mantemos neste ciclo de "baixo salário>baixa produtividade", e não evoluímos para o mundo desenvolvido do "bom salário>boa produtividade"?
Penso que talvez seja apenas porque quem nos governa representa os interesses dos maus empresários, os que ficam de "pantufas" na sua "área de conforto", os que não inovam, que preferem comprar um carro de luxo a uma máquina nova para a empresa...