quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 Eu e o Arquiteto Ribeiro Telles

Lembro-me de um dia ter estado com o Arq. Ribeiro Telles. Foi lá por meados dos anos 80 do século passado, era eu jovem e ele já homem bem maduro. Fomos ambos convidados pela UGT para a mesa de uma conferência sobre ambiente, e esteve connosco nessa mesma mesa um sujeito barbudo do partido socialista que se chamava Sócrates. A esse não liguei patavina, porque só disse generalidades, como é comum a muitos políticos da nossa praça. Dizem daquelas coisas que soam bem, mas não adiantam nada ao que já toda a gente sabe. Por isso nem sei ao certo se esse Sócrates era o mesmo que veio a ser Primeiro-ministro de Portugal, mas talvez, porque esse começou como Ministro do Ambiente.
Já o que disse o Arquiteto Ribeiro Telles não esqueço, porque com a sua discreta sabedoria, e sem mencionar o meu discurso que acabava de ouvir, deu-me uma lição de sensatez e moderação que eu, nos verdes anos, ainda não tinha aprendido. Se bem me lembro eu tinha vociferado contra as plantas não nativas como se fossem causa de todos os males do universo, e contra outras atividades não tradicionais, porque descaracterizavam a paisagem, traiam as práticas ancestrais, bla, bla, bla…
Ele lembrou alguns dos raríssimos produtos agrícolas que poderíamos comer hoje se nos ficássemos pela cultura das espécies nativas, e explicou como mestre que era, que a natureza não é estática, mas antes dinâmica, e que isso é a sua maior mais-valia. Acabou por perguntar se alguém queria viver só de farinha de bolota, e essa acho que foi diretamente para mim, que tinha acabado de colocar num pedestal as quercíneas em oposição à agricultura… enfiei a carapuça.
Claro está que com os anos que passaram por mim, e olhando agora para trás, vejo bem como ele estava muito à frente de todos nós, radicais cheios de certezas e cheios de nós mesmos. Não estranho, que era jovem e sabia pouco da vida. O que estranho é que tantos anos depois, já em pleno século XXI, gente madura continue a mostrar o mesmo radicalismo e falta de sabedoria que tinham os jovens desses tempos!