quarta-feira, 8 de maio de 2013

A "boa gente" e a "má gente"

Quando eu era muito moço havia fascismo, não nos era autorizado falar de política, e tudo o que se conseguia fazer era apreciar os outros com base na sua honestidade e formação moral e humana. Havia gente honesta, justa, leal, mas havia também canalhagem corrupta e mal formada: havia "boa gente", e havia "má gente", e a luta era para que a "boa gente" não sucumbisse à "má gente".
Depois disso a divisão entre as pessoas foi fundamentalmente ideológica: cada um se identificava com um projeto de sociedade, e a luta era pela implantação de modelos de sociedade diferentes, e esquecemos que havia, como sempre houve e há de haver, "boa gente" e "má gente".
Mais recentemente as pessoas deixaram de ter um projeto de sociedade, e entregaram-se às filiações partidárias, num espírito clânico ou "clubista", e a luta passou a ser pelo triunfo do seu partido na medida em que isso promovia o seu triunfo pessoal. Morreram as ideologias e os voluntarismos altruístas, morreu de todo a ideia de se ser "boa gente" ou "má gente", e os corruptos, oportunistas e sem carácter, que antes eram escória, passaram a ser considerados "espertos", ao mesmo tempo que tolerámos que ascendessem na escala social... Não andámos bem.
Hoje temo que se tenha que voltar a encontrar na essência humana, o ser "boa gente" ou "má gente", o primeiro nível de apreciação dos que nos rodeiam. Antes da ideologia ou do partido, há que "separar o trigo do joio", mesmo porque há "trigo" e há "joio" em todas as ideologias e partidos.
Será por isso possivelmente a tarefa mais importante da sociedade, e dentro dela dos partidos, fazer a expurga de todos os oportunistas que se entregam à vida pública procurando benefícios pessoais, e não, como deveria ser, benefícios para a comunidade.
Por mim, cada vez mais, aprecio o "trigo" e desprezo o "joio". Bem vistas as coisas, o "joio" é realmente desprezível.

Fernando R. Almeida

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