Houve tempos em que os partidos políticos arranjavam
colocação para os seus “rapazes” nos ministérios, em cargos próximos dos
gabinetes de gente importante, ao nível do Ministro ou do Secretário de Estado.
Mais tarde começaram a nomear gente para cargos menores, criaram-se assessores
mesmo nas Direções Regionais e no mesmo abaixo disso, em órgãos de utilidade
mais que duvidosa de âmbito sub-regional. Mas agora este “polvo” lança já os
seus tentáculos até ao ponto de controlar a gestão das “escolinhas de província”,
como é o caso do novo Agrupamento de Escolas de Odemira. É animal insaciável,
não há dúvida, e qualquer dia, até para se ser porteiro é preciso mostrar a cor
partidária ou qualquer outra fidelidade.
De facto, muito embora exista uma proposta de comissão
instaladora do novo agrupamento nascida das direções anteriores (e que reúne o
acordo geral da comunidade e que inclusivamente recebeu o apoio unânime da
Assembleia de Escola), a Delegação Regional de Évora nomeou para dirigir a
Comissão Instaladora do novo agrupamento uma pessoa sem qualquer experiência e
cujo perfil é tudo menos consensual. Troca-se uma direção competente e com
muitas provas dadas, por uma outra sem qualquer preparação para o cargo. Só por
milagre não vai correr mal, e só por esse mesmo milagre o dinheiro dos nossos
impostos não será malbaratado. A reforma da administração pública de que tanto
se fala deve ser feita pela busca da competência, e não apenas por
despedimentos indiscriminados.
Ora, alguém deveria explicar aos nossos dirigentes
intermédios, e mesmo aos dirigentes de topo que nos governam, que isto da
democracia não é bem um processo em que a comunidade elege de quatro em quatro
anos alguém para a tiranizar. A democracia é muito mais que um processo
eleitoral. É também uma forma de relação da administração com a sociedade civil,
em que existe respeito mútuo. Mas parece que essa parte da democracia entre nós
ficou na gaveta.
Como sabemos que frequentemente o dirigente máximo de um
organismo, embora seja responsável por todo o aparelho, desconhece as trapalhices
que os quadros intermédios vão fazendo, relato esta situação, esperando que o Ministro corrija o que deve ser corrigido. E ficamos à
espera. Se a administração central nada fizer em relação a este e a muitos
outros casos tiraremos as nossas conclusões.
E já agora quero ver a cara de algumas pessoas daqui a um ano, quando a normalidade democrática for reposta...